CIGANA GRÁVIDA –PARTE 7/9
O tão esperado
momento do parto para as ciganas acontecia de modo totalmente natural, cercada
das mulheres de seu clã e cujas tradições nos procedimentos e rituais
apresentavam certa variação nos grupos, conforme suas crenças e seus costumes.
De um modo geral, ao longo da
história, o que mais chama a atenção é o fato da recente mãe ser considerada uma fonte de impurezas, não podendo ela se
apresentar na vida pública ou realizar qualquer atividade, especialmente nos
quarenta dias após o parto. De acordo com a tradição, no final desse período de purificação, as roupas
usadas, a cama, pratos, copos e todos os itens utilizados pela nova mãe eram
destruídos ou queimados.
A título de ilustração, fica
colacionado o relato do “Livro de
Tombo dos negoceos diários e dos labores officiaes em missão de manter a ordem
e bons costumes da Fazenda Grão Mogol”, trazido por Frans Moonen em sua obra “Odisséia
dos Ciganos”, conforme segue:
“No acampamento cigano:
Nasceu um pequenino. A mãe passa
muito bem. Ela foi ajudada pelas tias e outras mulheres da tribo. Como é nosso
costume, após as primeiras dores do parto a romi retira-se da tenda e repousa debaixo de uma grande árvore.
O nascimento tem que ser ao ar livre, para captar as energias da natureza. Os
homens ficam distantes e tensos, como sempre ficam quando alguém vai nascer. De
longe ouvimos os gemidos da grávida. As mulheres cantavam hinos sagrados a Deus, para suavizar os sofrimentos da
futura mãe e dar boa sorte ao novo ente. As avós com talismãs, rezas
infalíveis, figas e bentinhos que deitavam ao pescoço da parturiente, de vez em
quando sopravam-lhe ao rosto, transmitindo força e resistência. Ao primeiro
vagido, uma ou duas mulheres correm ao centro do caravançará anunciando o
menino ou menina que chegou à tribo. A criança é lavada com água e vinho, numa
bacia de prata, nela se jogam moedas de ouro, áuspices de fortuna. Depois do
corte do umbigo, feita a ligadura, uma riquíssima toalha de linho, defumada com
alfazema, envolve o garoto, que é então apresentado ao pai para seus carinhos.
Em seguida, as parteiras limpam a parturiente e entregam-lhe o recém-nascido.
Neste momento, ela sopra-lhe ao ouvido o nome secreto, que só ela saberá e que
tem por fim protegê-lo dos maus espíritos, que por não saberem o nome nada
fazem contra ele. Todas as jóias e objetos de valor dados como presentes são
vendidos, e com o dinheiro compra-se o enxoval. Um nome lhe será dado e por ele
chamado entre os da sua raça. A este menino chamamos Iunes. Se for possível, se
o padre não recusar, o menino será batizado com outro nome que será usado no
mundo dos gadgês. Haverá uma festa,
a mãe ficará afastada, por ser considerada mahrimé*, por quarenta e um dias."
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